by Autor convidado | 22/10/21 | Destaque, Escrita Acadêmica
Quem nunca passou por longos momentos olhando para a tela em branco do editor de texto com o cursor piscando? Pode ser uma situação muito intimidadora! Comportamentos comuns no momento de escrever incluem a relutância, a distração, a procrastinação, o medo da crítica, o perfeccionismo… Tudo isso fazendo aumentar a ansiedade em frente à tela em branco. Hoje vamos dar algumas dicas para superar essa ansiedade, começar a escrever e desenvolver a disciplina necessária para continuar escrevendo.
1- Comece pela parte do projeto/artigo que você acha mais fácil!
Platão já dizia “O começo é a metade do todo.” Só de começar, mesmo que seja pelo título, os autores e os subtítulos das sessões do artigo, já dá até um ânimo a mais! Daí é só começar pela parte que para você é a mais fácil. A maioria gosta de começar pelos Métodos, já que é algo que não vai mudar muito do início ao fim do processo. A partir daí, o “bloqueio do escritor” pode ir ficando para trás… Você pode se sentir mais estimulado a continuar. Pelo menos a tela já não está mais em branco!
2- Estabeleça metas diárias! (objetivos pequenos e concretos)
Começar é um passo importante! Mas tão importante quanto começar é continuar. A disciplina é essencial. Estabelecer metas pode te ajudar no desenvolvimento da escrita. Cuidado para que sejam objetivos concretos e pequenos, para que sejam um estímulo e não uma nova frustração. As metas podem ser tanto em horas dedicadas à escrita quanto em resultado (parágrafos ou seções escritas ou revisadas).
3- Busque um ambiente sem distrações!
As distrações estão em todo lugar: na TV cheia de plataformas de streaming, no celular com as redes sociais e a Internet, na geladeira do home office que te chama a todo momento. Escrever pode ser uma tarefa difícil e seu cérebro vai tentar te convencer a fazer mil coisas antes de começar de fato. Sabendo disso, busque um ambiente sem distrações. Coloque o celular longe, deixe a água ali pertinho e talvez algo para comer, feche as 550 abas do seu browser (ou desligue o wi-fi do computador se não precisar fazer nenhuma pesquisa enquanto escreve). Tudo para se concentrar melhor! Você pode usar um timer para criar blocos de trabalho alternados com curtos intervalos, assim pode ir ao banheiro, ver algumas notificações e logo retornar para a escrita.
4- Baixe suas expectativas… não espere um manuscrito perfeito e completo na primeira sentada!
O medo da crítica e o perfeccionismo podem te levar a simplesmente não começar a escrever e ainda aumentar muito a ansiedade no momento da escrita. Tente baixar as suas expectativas quando começar a escrever. O primeiro rascunho não sairá perfeito e isso é perfeitamente normal! Muuuuitas revisões ainda serão feitas. Lembre-se que muitas vezes o feito é melhor do que o perfeito, e essa frase se aplica perfeitamente ao primeiro rascunho de um manuscrito.
5- Compreenda os seus hábitos de escritor
Cientistas passam uma quantidade enorme de tempo escrevendo. Não temos essa noção no início da carreira, e poucos prestam atenção ao processo da escrita. Você consegue acelerar muito esse aprendizado se prestar uma atenção consciente ao seu próprio processo de escrita. Cada um tem o seu! Como você escreve? Qual o seu processo? Você prefere escrever na primeira hora do dia ou à noite? Prefere escrever em casa ou no laboratório? No silêncio absoluto ou com alguma música de fundo? Prefere fazer muitas anotações antes para depois começar a escrever ou vai escrevendo à medida que lê a bibliografia? Não existe método perfeito. Você deve encontrar o seu, e conhecê-lo pode te ajudar bastante a estabelecer bons hábitos de escrita.
Autora: Mariana Freitas Nery – pesquisadora e professora da UNICAMP. Tem graduação em Biologia pela UFSCar, mestrado em Biologia Animal pela UFRRJ, doutorado em Ecologia e Evolução pela UACh (Universidad Austral de Chile). Em 2016, fez o Academic Writing Teacher Training Course pela University of Bath, na Inglaterra, e atualmente ministra o curso Escrita de Artigos Científicos pela Extecamp UNICAMP.
Foto por Ashley West Edwards no Unsplash
by Reginaldo Francisco | 27/09/21 | Destaque, Escrita Acadêmica
Um dos artigos mais lidos do nosso blog é o que explica como utilizar os recursos da reserva técnica de bolsas e auxílios da FAPESP para pagar pelo serviço de tradução de artigos científicos visando à publicação. Percebi que o texto foi bastante útil para vários pesquisadores do Estado de São Paulo, que têm acesso aos recursos da FAPESP, por isso resolvi pesquisar alternativas semelhantes que pudessem ser utilizadas por pesquisadores de outros estados também. Uma opção de alcance nacional, ou seja, que pode ser utilizada por pesquisadores de todo o Brasil, são os recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio de dois programas: o Programa de Apoio à Pós-Graduação (PROAP) e o Programa de Excelência Acadêmica (PROEX).
Diferentemente das bolsas e auxílios da FAPESP, os recursos da CAPES não são destinados diretamente ao pesquisador, mas sim distribuídos aos programas de pós-graduação das universidades (no caso do PROEX, com a exigência de manterem conceito 6 ou 7 na avaliação da CAPES). São as instituições de ensino superior que administram a aplicação desses recursos, obedecendo às destinações previstas no regulamento dos dois programas.
A utilização plena e eficiente dessas verbas é importante, pois influencia na definição dos valores destinados aos programas de pós a cada ano:
Art. 4º O valor de referência para o repasse de recursos financeiros relativos aos PPGs [programas de pós-graduação] será fixado anualmente em função da disponibilidade orçamentária da CAPES e dos critérios abaixo:
[…]
II – critérios subsidiários:
[…]
c) grau de utilização dos recursos do PROAP em exercícios anteriores. (Portaria nº 156, de 28 de novembro de 2014, grifo meu)
Art. 2º A instituição participante do PROAP deverá:
[…]
IX – solicitar à CAPES, caso necessário, remanejamento de recursos entre os PPGs, de forma a otimizar sua execução plena (Portaria nº 156, de 28 de novembro de 2014, grifo meu)
Usar os recursos para publicação de artigos é uma boa maneira de garantir a sua utilização, já que se trata de uma necessidade frequente dos pesquisadores e das instituições. É uma boa alternativa especialmente no contexto atual, em que a pandemia de Covid-19 tem limitado a possibilidade de alguns outros usos, como a organização de eventos ou a participação neles.
O uso para pagar despesas de tradução está previsto exatamente da mesma forma no regulamento do PROAP e do PROEX:
Assim como destaquei no texto sobre a reserva técnica da FAPESP, também com a CAPES é essencial ter em mente a necessidade de prestação de contas. Lá esbocei inclusive um passo a passo para conseguir uma boa tradução utilizando os recursos da reserva técnica e cumprindo as exigências da FAPESP para prestar contas depois. No caso do PROAP e do PROEX, como a verba é administrada pelo programa de pós, os processos podem variar. Alguns programas lançam editais específicos ou definem normas próprias para a solicitação dos recursos.
Portanto, o primeiro passo para o pesquisador interessado em utilizar essa verba é consultar o programa de pós-graduação do qual faz parte sobre sua disponibilidade e sobre o procedimento para utilizá-la. Em alguns casos, o programa pede que sejam obtidos três orçamentos de empresas diferentes, embora os valores desse tipo de serviço costumem ficar dentro do limite para dispensa de licitação.
Em seguida, pode-se solicitar um orçamento na plataforma Win-Win clicando em “Quero uma tradução” e seguindo as orientações em tela para criar um projeto de tradução. Quando um dos tradutores da plataforma orçar o serviço, o pesquisador encaminha o orçamento para o programa de pós-graduação. Se for necessário, pode entrar em contato com a Win-Win para solicitar o orçamento formalizado em PDF com timbre da empresa e eventuais informações adicionais exigidas por seu programa. Também é possível verificar com a Win-Win a possibilidade de negociação com o tradutor, quando for necessário mais de um orçamento e o obtido na plataforma não tiver sido o de menor valor.
Quando os recursos forem liberados, é só acessar o projeto de tradução, aprovar o orçamento e seguir as orientações da pós para realizar o pagamento. Quando a tradução estiver pronta (ou antes, se necessário), é preciso enviar para a Win-Win os dados que devem constar na nota fiscal para a prestação de contas, também conforme for orientado pelo programa de pós.
Pronto! Aí é só submeter o artigo traduzido à revista que tiver escolhido e enviar a nota fiscal para a pós incluir na prestação de contas.
Tentei explicar de uma forma simples, mas tenha em mente que esses processos não costumam ser rápidos. Então cuidado se houver um prazo para submissão à revista ou para uso dos recursos. O artigo precisa estar pronto com uma boa antecedência para que seja possível fazer todo o trâmite e ter a tradução pronta a tempo.
Cabe ainda fazer a ressalva de que não faço parte da CAPES nem de nenhuma instituição de pesquisa, então as informações prestadas aqui basearam-se exclusivamente no estudo dos regulamentos dos dois programas, que podem ser encontrados nos links fornecidos acima. Qualquer dúvida, o melhor é consultar o próprio programa de pós.
E caso alguma informação aqui esteja incompleta, imprecisa ou pouco clara, agradeço muito por comentários que ajudem a emendar ou melhorar o texto.
Obrigado a quem chegou até aqui e até o próximo post!
by Autor convidado | 10/09/21 | Destaque, Escrita Acadêmica
Nesse post falaremos sobre anotações que são muito comuns durante a pós-graduação, quando lemos diversos materiais como artigos ou livros, as chamadas referências bibliográficas. Quem nunca passou horas procurando a fonte de alguma informação, ou escreveu um projeto ou relatório e depois de um tempo precisou daquela informação novamente e teve dificuldade em encontrar suas anotações? Ou, pior, seu orientador pede para você adicionar uma referência em um parágrafo e você não faz ideia de onde tirou aquela informação. As anotações na pós-graduação têm uma importância enorme, tanto para nos ajudar a aprender sobre nossa área de pesquisa como para construir nosso próprio conhecimento, que depois será publicado em forma de dissertações, teses ou artigos.
Reunimos aqui 9 dicas para ajudar a fazer anotações mais úteis e que têm potencial para acompanhar você por mais tempo durante a sua vida acadêmica.
1. Elimine distrações
Quando estiver lendo ou processando algum material, tente minimizar distrações. Coloque o celular em modo avião, feche abas desnecessárias e evite ao máximo trocar de tarefas. Concentre-se na leitura para maximizar a qualidade das anotações.
2. Não se limite a destacar texto
Destacar o texto, seja em papel ou num arquivo digital, pode ser uma etapa da anotação, mas ela nunca pode terminar aí. Um texto destacado não é uma anotação e mais tarde, quando você precisar dessa informação, terá que confiar na memória para encontrá-la, o que quase sempre acaba nos deixando na mão.
3. Organize suas notas por tópicos
Organizar por tópicos pode ajudar a processar as anotações no momento de escrever, por exemplo. Anotações organizadas por datas ou autores costumam ser bem mais complexas. Claro que, se o tema do seu trabalho for contrastar a opinião de diferentes autores, será uma exceção a essa regra.
4. Anote as suas ideias
Sempre, sempre, sempre anote o que passa pela sua cabeça durante a leitura do material fonte (livro, artigo, etc.). Use suas próprias palavras, tente ir além das ideias do autor, faça conexões com outras fontes. Só assim você conseguirá ser original e chegar às suas próprias ideias.
5. Use um sistema robusto
O seu sistema de anotações, seja físico ou virtual, tem que ser robusto, ou seja, tem que funcionar sob condições variadas. Você tem que ter fácil acesso às suas anotações se precisar buscar temas dentro de um corpo de notas. Além disso, seria ideal criar cópias de segurança. Nesse ponto as anotações eletrônicas levam vantagem.
6. Seja preciso na origem do material
É fundamental saber exatamente a fonte de uma informação quando for usá-la. Programas de gerenciamento de referências, como o Zotero, são imprescindíveis para a sobrevivência na pós-graduação. Aqui você encontra um comparativo entre diversos programas. Gaste alguns minutinhos e aprenda a usar um. Certamente valerá a pena.
7. Separe as suas ideias das ideias de outros
Sugeri que anote suas próprias ideias enquanto lê, mas crie um sistema para que suas ideias nunca se misturem com as de outros autores. Você pode mantê-las em arquivos separados, ou em partes separadas dentro do mesmo arquivo. Todo cuidado é pouco nesse ponto.
8. Traga detalhes importantes
Em geral as anotações devem ser curtas, caso contrário acabam perdendo a utilidade. Entretanto, dependendo da finalidade da informação, pode acabar requerendo alguns detalhes. Por exemplo, informações mais técnicas, condições em que o estudo foi realizado, tudo isso pode acabar sendo necessário.
9. Faça anotações sobre a escrita
Lembre-se que terá que escrever sua tese, dissertação ou artigo. Portanto, se encontrar um material bem escrito, tome nota! Olhe de perto a estrutura usada pelo autor, como ele organiza as ideias. Mantenha uma nota separada só para isso. Certamente ela será muito útil.
Lembre-se: o pensamento crítico, habilidade fundamental a desenvolver na pós-graduação, começa com uma leitura crítica. Esse processo deve ser ativo. Fazer anotações de maneira sistemática e consciente leva a um crescente de anotações durante a sua carreira. Portanto, desenvolver um sistema que funcione é vital para a pós-graduação e para a sua vida profissional.
Em um próximo post discutiremos algumas ferramentas que podemos usar para fazer e armazenar anotações. Até lá.
Autor: Marcelo Bispo de Jesus – pesquisador e professor da UNICAMP. Tem graduação em Biologia e mestrado e doutorado em Biologia Molecular e Funcional pela UNICAMP, além de um PhD pela Universidade de Groningen, na Holanda. Em 2016, fez o Academic Writing Teacher Training Course pela University of Bath, na Inglaterra, e atualmente ministra o curso Escrita de Artigos Científicos pela Extecamp UNICAMP.
Imagem: Kelly Sikkema – Unsplash
by Reginaldo Francisco | 01/12/20 | Escrita Acadêmica
COMO USAR A RESERVA TÉCNICA DA FAPESP PARA PUBLICAR SEU ARTIGO EM INGLÊS
ATUALIZAÇÃO: Em maio de 2021, a FAPESP atualizou suas Normas para Uso de Recursos e Prestação de Contas de Auxílios e Bolsas. Embora o uso da reserva técnica não tenha sido alterado, a forma de prestar contas mudou, por isso atualizei o texto para adequá-lo às normas vigentes.
Ser pesquisador no Brasil não é fácil por uma série de questões políticas, econômicas, estruturais. Mas, além de tudo, no momento de divulgar as próprias descobertas, o pesquisador brasileiro tem que se haver com uma dificuldade extra que um pesquisador americano, por exemplo, não teria: a necessidade de publicá-las numa língua que não é a sua.
Apesar de haver muitas revistas científicas brasileiras, é difícil conseguir maior alcance e projeção para o próprio trabalho sem publicar em inglês em periódicos internacionais (ou mesmo nos nacionais). Muitos pesquisadores tentam escrever seus artigos diretamente em inglês, ou traduzi-los por conta própria. Porém, mesmo tendo bons conhecimentos da língua inglesa e familiaridade com o assunto, é muito comum acabarem incorrendo em problemas linguísticos que podem levar a revista a recusar o artigo ou devolvê-lo para correções.
Então, contratar o serviço de um tradutor profissional pode ser mais seguro, e a plataforma Win-Win facilitou muito o trabalho de encontrar profissionais qualificados. Porém, como qualquer pesquisador sabe por si próprio, trabalho qualificado tem seu preço, e muitas vezes esse preço é mais alto do que ele pode investir. A Win-Win tenta fornecer possibilidades para resolver esse impasse, facilitando que coautores e outros interessados na tradução dividam o custo da tradução, num modelo de “vaquinha” virtual, e mais recentemente permitindo o parcelamento de valores mais altos. Mas existe também a possibilidade de conseguir recursos institucionais para pagar por esse serviço, e um bom exemplo é por meio da reserva técnica dos auxílios e bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), de que vou tratar aqui.
Uso da reserva técnica para tradução de artigos
A FAPESP é uma das principais instituições de apoio à pesquisa do Brasil, financiando milhares de bolsas e auxílios em diferentes modalidades: mestrado, doutorado, pós-doutorado, estágio no exterior, jovem pesquisador, projetos temáticos, pesquisa em pequenas empresas, entre muitas outras. Em muitas dessas modalidades de apoio, a FAPESP inclui nos recursos concedidos um valor adicional a título de reserva técnica, para atender a despesas imprevistas e diretamente relacionadas ao projeto financiado. Entre as possibilidades de uso desse recurso adicional, descritas nas Normas para Utilização dos Recursos da Reserva Técnica Concedidos pela FAPESP, está a tradução de artigos visando à publicação.
No caso de auxílios, essa possibilidade está listada em 5.1.2.2:
As possíveis aplicações da Parcela para Custos de Infraestrutura Direta do Projeto, de responsabilidade do Outorgado, são:
[…]
d) Tradução, versão e revisão de texto, desde que com vistas à publicação. (https://fapesp.br/rt)
Já em relação às bolsas, a tradução de artigos pode ser enquadrada na categoria “serviços de terceiros”:
4.6.3 Serviços de Terceiros:
a) Entende-se que o pagamento deste serviço seja para realização de atividades estritamente relacionadas com o projeto da Bolsa e que por sua natureza não possam ser desenvolvidas pelo outorgado. (https://fapesp.br/rt)
Porém, como essa possibilidade não está explicitamente listada nas Normas na parte referente a bolsas, achei melhor escrever para o Converse com a FAPESP para tirar a dúvida antes de escrever este artigo. A resposta que obtive da Gerência de Auditoria da Fundação confirmou minha interpretação de que a reserva técnica de bolsa também pode ser utilizada para traduções:
A especificação da finalidade de publicação é importante, já que os recursos não podem ser usados para tradução de trabalhos para apresentação em eventos, por exemplo, conforme explicitamente vetado nas normas referentes à reserva técnica de bolsas:
4.9 Itens não financiáveis com a Reserva Técnica:
Os itens abaixo não poderão ser objeto de despesa com os recursos concedidos. A utilização desses recursos para aquisição ou pagamento implicará na restituição à FAPESP dos valores correspondentes.
[…]
4.9.6 Participação em Reunião Científica ou Tecnológica no Brasil ou no exterior:
[…]
i) Revisão de texto, tradução e versão. (https://fapesp.br/rt)
Utilização do recurso e prestação de contas
Como se trata de recursos públicos, é importante ter sempre em mente a necessidade de prestação de contas, cuidando de reunir todos os comprovantes e atender as exigências da FAPESP descritas em suas Normas para Uso de Recursos e Prestação de Contas de Auxílios e Bolsas (atualizadas em maio de 2021).
O processo ideal para conseguir uma boa tradução para seu trabalho cumprindo todas as exigências da FAPESP é:
1. Conclua a escrita do artigo com antecedência suficiente para a tradução. Assim como você e os outros autores levaram tempo para escrevê-lo, o tradutor também precisará de tempo para traduzi-lo. Além disso, é necessário tempo para o processo de obter um orçamento para o trabalho, solicitar a liberação dos recursos pela FAPESP, fazer o pagamento. É difícil estabelecer uma antecedência mínima necessária, pois ela depende da dificuldade do artigo, de sua extensão, da disponibilidade dos tradutores, entre outros fatores, mas quanto maior a antecedência, melhor. Procure se planejar com os demais autores para terminarem a escrita algumas semanas antes do prazo para envio à revista.
2. Crie um projeto de tradução na plataforma Win-Win clicando em “Quero uma tradução” e em seguida em “Quero a tradução de um conteúdo privado, salvo em um arquivo”. É preciso fazer login ou criar uma conta, se não tiver (nos dois casos, coisa rápida). Em seguida, basta inserir as informações solicitadas, clicar em “Selecionar arquivo(s)” e, na página seguinte, anexar o artigo a ser traduzido e concluir o envio para orçamento.
3. Os tradutores cadastrados na plataforma serão notificados e um deles fará um orçamento para a tradução do artigo. Você receberá um aviso por e-mail para acessar o projeto e verificar o orçamento. Se o valor estiver dentro dos recursos disponíveis na sua reserva técnica, já aprove o orçamento para o tradutor saber que você tem interesse no serviço.
4. Solicite a liberação dos recursos conforme as instruções em fapesp.br/financeiro. É bastante simples fazer a solicitação e o dinheiro é liberado em no máximo dois dias úteis.
5. Quando os recursos forem liberados, acesse o projeto de tradução na Win-Win, clique em Pagar e siga os passos para concluir o pagamento. É só a partir do pagamento que o tradutor inicia o trabalho. Como os recursos da FAPESP geralmente são administrados por meio de um cartão enviado ao pesquisador, não deve haver problemas para finalizar o pagamento diretamente na plataforma, mas, se tiver alguma dificuldade, pode entrar em contato com a Win‑Win.
6. Quando a tradução estiver pronta, ficará disponível na sua conta na plataforma e você receberá um aviso por e-mail. Depois de abrir e conferir o arquivo, envie um e-mail para contato@win-win.net.br informando os dados que precisam constar na nota fiscal, como o número do processo FAPESP e os dados do outorgado ou bolsista, em nome de quem deve ser emitida a nota (cf. itens 3a e 3.2a das Normas).
7. Pronto! Pode enviar a tradução para o periódico e guardar a nota fiscal que a Win‑Win enviar para incluir na prestação de contas ao final da vigência do auxílio ou bolsa. Se preferir, também já pode preencher as informações na prestação de contas pelo sistema SAGe da FAPESP, para adiantar (cf. itens 4.1 e 4.2 das Normas).
Além da prestação de contas, a FAPESP pede que o outorgado descreva o uso dos recursos da reserva técnica em cada relatório científico enviado durante a vigência do auxílio ou bolsa, com especial cuidado em relação à contratação de serviços de terceiros, como é o caso da tradução:
4.6.3 Serviços de Terceiros:
[…]
b) Toda despesa efetuada deve ser justificada, dando-se especial atenção aos gastos com serviços de terceiros que, eventualmente, excedam a 20% do valor total da reserva concedida. Nos casos em que tais gastos sejam imprescindíveis, a despesa deverá ser detalhadamente justificada por ocasião da apresentação do Relatório Científico imediatamente posterior. (https://fapesp.br/rt)
Apesar do trabalho um pouco maçante da prestação de contas, a disponibilidade da reserva técnica nos projetos financiados pela FAPESP é um excelente recurso para atender as necessidades da pesquisa, e a possibilidade de usá-la para conseguir uma tradução de qualidade pode fazer a diferença entre ter um artigo aceito ou não para publicação. E, uma vez que o artigo seja aceito, também é possível usar recursos da reserva técnica para pagar a taxa de publicação do periódico, caso haja, conforme listado no item 5.1.2.2c das Normas (infelizmente apenas no caso de auxílios; esse uso não é previsto para reserva técnica de bolsas):
[…]
c) Pagamento de taxas de publicação de artigos e aquisição de separatas. (https://fapesp.br/rt)
Portanto, vale a pena estudar o orçamento do seu projeto e se organizar para usar parte da verba dessa forma. Caso não tenha nenhuma bolsa ou auxílio, verifique com os coautores do artigo, se houver, ou com seu orientador, se não têm algum projeto financiado pela FAPESP com recursos da reserva técnica disponíveis para esse uso.
É importante ressaltar que, embora eu tenha estudado cuidadosamente as normas da FAPESP para escrever este artigo com informações o mais corretas e atualizadas possível, é sempre bom consultar diretamente as normas vigentes no site da FAPESP antes de utilizar o recurso e, em caso de dúvidas, entrar em contato com o Converse com a FAPESP.
E você, conhece alguma outra fonte de recursos que pode ser usada para traduzir artigos para publicação? Se conhecer, deixe a dica nos comentários para ajudar seus pares e contribuir para a divulgação da ciência brasileira.
by Reginaldo Francisco | 09/06/20 | Escrita Acadêmica
VÍRGULAS NO PORTUGUÊS: O SEGREDO
“O segredo que os aplicadores de provas não querem que você saiba.”
“Donos de cursinho estão de cabelo em pé com este segredo que está se espalhando entre os estudantes.”
“Garota da região de <IP_location> descobriu este segredo e nunca mais voltou às aulas de gramática.”
Hahaha Não é nada disso. E o que vou explicar no artigo de hoje não é segredo no sentido de “que ninguém deve saber”, “não pode ser divulgado”, “é sabido por poucos”, pegando emprestadas partes das definições do Aulete on-line. Estaria mais para “parte mais difícil e essencial de uma arte, ciência etc.”, da definição 7 do mesmo dicionário, só que não é difícil, como vou mostrar a seguir.
A vírgula no português não é nenhum símbolo esotérico — e também não é orégano para se salpicar a gosto no texto. Ela é usada seguindo, mais do que regras, uma lógica, e essa lógica tem uma questão central que vou explicar aqui. Tendo-a em mente, fica fácil entender, ou até deduzir, as regras mais específicas.
É preciso um pouco de análise sintática, mas sem toda aquela complicação de nomenclaturas assustadoras, do tipo “oração subordinada substantiva objetiva direta” e similares. Vamos simplesmente analisar a sintaxe, que nada mais é que a organização da estrutura das frases — vou inclusive chamar tudo de frase, sem preocupação com distinções entre frase, oração, período… Os gramáticos hão de me perdoar a imprecisão em troca de uma explicação mais eficaz.
Então, partindo do básico e sem esquentar a cabeça com nomenclaturas, vamos lembrar que a ordem típica de palavras numa frase em português é sujeito-verbo-objeto, que é o velho “sujeito e predicado” lá do ensino fundamental, com o predicado se desdobrando em um verbo e um objeto, ou dois, em alguns casos. O núcleo essencial é o verbo, tanto que podem existir frases sem sujeito (“Choveu.”), com sujeito subentendido (“Cheguei.”) e sem objeto (“O menino nasceu.”, além dos dois exemplos anteriores). Mas muitas vezes o verbo não faz sentido sem um complemento, que então é chamado de objeto:
Roberto comprou flores.
O cachorro trouxe a bolinha.
Adriana ingressou na universidade.
O oficial entregou a intimação ao rapaz.
Veja que, em todas as frases, o verbo destacado não faz sentido sem o complemento que vem depois (ou complementos, no caso da última). Cada uma dessas partes essenciais pode ser mais longa, até mesmo uma oração inteira, mas, achando o verbo ou a locução verbal que expressa a ação principal, é fácil ver quem fez a ação (sujeito) e quem sofreu a ação (objeto):
A mulher que ele amava desde a adolescência | tinha acabado de dizer | as mais belas palavras já ouvidas por ele.
Depois da sequência básica de sujeito-verbo-objeto, podem vir outros complementos não obrigatórios, que se diferenciam dos objetos do verbo justamente por não serem obrigatórios:
Adriana ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul numa tarde chuvosa do mês de março de 2019.
Percebeu o uso das vírgulas nos exemplos usados?
Exatamente! Não há vírgula nenhuma. E aí está o ponto: quando a construção da frase segue a ordem mais natural de sujeito-verbo-objeto, seguida ou não de complementos opcionais, não são necessárias vírgulas, por mais longa que seja (derrubando aquela ideia de que vírgula serve para respirar):
Uma das figuras mais controversas da História do Brasil tirou a própria vida com um tiro no peito naquela madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954 em que escreveu a carta que se tornaria célebre pela frase de fechamento de sua polêmica versão datilografada.
Se fosse necessária uma vírgula para respirar, seria difícil sobreviver à leitura desse exemplo.
As vírgulas se tornam necessárias quando essa ordem é rompida. Esse rompimento pode ocorrer, por exemplo:
- Pela inversão dos elementos:
Ao rapaz, o oficial entregou a intimação.
No mês de março de 2019, Adriana ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
No mês de março de 2019, Adriana ingressou, numa tarde chuvosa, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
- Pela inserção de explicações ou outras observações no início ou no meio da frase (quando no meio, são isoladas por vírgulas antes e depois):
Ainda apaixonado, Roberto comprou flores para ela.
Por fim, o cachorro trouxe a bolinha.
Adriana ingressou, depois de muito empenho e estudo, na universidade que desejava.
Adriana, que sempre tinha estudado muito, conseguiu ingressar na universidade.
Getúlio Vargas, uma das figuras mais controversas da História do Brasil, suicidou-se em agosto de 1954.
Ingressou na instituição que queria, ou seja, na Universidade Federal de Santa Catarina.
- Pelo acréscimo de uma oração dependente (subordinada) da principal:
Assinado o papel, o oficial entregou a intimação ao rapaz.
O oficial, depois de pedir sua assinatura, entregou a intimação ao rapaz.
O oficial entregou a intimação ao rapaz, pedindo em seguida que ele assinasse o papel.
- Pelo acréscimo de um vocativo para se dirigir ao interlocutor:
Marcelo, viu que Adriana entrou na universidade?
Era a mulher, cara leitora, que ele amava desde a adolescência.
Você foi aprovada, Adriana.
- Pela omissão de elementos subentendidos:
Entrei na universidade em 2018; Adriana, em 2019.
São muitas as situações em que se usam vírgulas e os exemplos acima certamente não cobrem todas elas, mas a intenção era apenas mostrar uma lógica que permeia boa parte de seus usos. De fato, grande parte das regras para usá-las, ainda que enunciadas de outra forma, podem ser compreendidas pensando nesse aspecto da quebra da ordem mais linear das palavras. E a explicação também é fácil de compreender: quando a ordem mais natural é rompida, a frase ficaria mais difícil de entender se não fossem as vírgulas separando os elementos que estão “fora de lugar” ou “sobrando”. Veja como ficariam confusos ou ambíguos alguns dos últimos exemplos acima sem elas:
Marcelo viu que Adriana entrou na universidade?
Era a mulher cara leitora que ele amava desde a adolescência.
Não é nenhum macete espetacular nem a fórmula mágica da pontuação, mas espero que perceber essa lógica (e desmistificar um pouco a análise sintática) ajudem você a usar com mais segurança e correção a vírgula nos seus textos.
Consegue pensar em regras que aprendeu de outra forma e fazem sentido por essa perspectiva? Tem algum exemplo que não se encaixa nela? Coloque aqui nos comentários para discutirmos ou até reunirmos assunto para um novo artigo sobre pontuação.
by Reginaldo Francisco | 17/04/20 | Escrita Acadêmica
COMO CITAR TEXTOS EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
Uma dúvida frequente de quem está escrevendo um texto acadêmico é como fazer citações. Num trabalho baseado em pesquisa, é natural e recomendável citar textos de referência e trabalhos de outros pesquisadores para embasar suas descobertas e afirmações. E é imprescindível citar corretamente, indicando as fontes para não incorrer em plágio.
As normas gerais de apresentação das citações são estabelecidas na norma NBR 10520:2001 – Apresentação de citações em documentos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e é fácil não errar nelas usando o modelo ABNT que disponibilizamos para download. Porém, uma questão que a ABNT não aborda em detalhes é como citar um trecho de um texto em língua estrangeira. Como fazer quando o texto citado não está em português? A NBR 10520 diz apenas que, quando a citação contiver texto traduzido por você, deverá incluir, entre parênteses, a expressão “tradução nossa”.
Assim, um exemplo seria:
“Não se pode fazer um trabalho acadêmico sobre um autor ou um assunto lendo apenas as obras escritas nas línguas que conhecemos.” (ECO, 2001, p. 34, tradução nossa).
E, na lista de referências, constariam as informações sobre o texto original em italiano:
ECO, Umberto. Come si fa una tesi di laurea: Le materie umanistiche. 12. ed. Milano: Bompiani, 2001.
Veja que a norma da ABNT não diz que é obrigatório traduzir, porém é uma boa prática e um sinal de boa vontade e respeito com seus leitores fazer isso, em vez de exigir que todos eles entendam o idioma estrangeiro. Além disso, é importante apresentar também o texto original, podendo ficar a tradução no texto e o original em nota de rodapé, como sugerido neste material da ESPM, ou o contrário, como sugerido neste material da UFSC — mas é importante escolher um padrão e segui-lo ao longo do trabalho todo. Pessoalmente, gosto mais da tradução no texto e o original no rodapé, para a leitura ficar mais fluida e o leitor que não conhece a língua estrangeira não precisar interromper a leitura e procurar a tradução na nota.
Em relação à apresentação da citação em língua estrangeira, é basicamente isso. Resta um problema, porém: o “tradução nossa” nesse caso indica que foi você esse “nós” que fez a tradução. Ou seja, como só conseguiu o texto de referência no idioma original, quase sempre porque ele ainda não foi traduzido no Brasil, coube a você o trabalho de traduzir o trecho citado. E, por mais que entenda do assunto e compreenda o texto original, traduzir é uma tarefa complicada, pois exige, além de um conhecimento profundo do idioma original, também uma excelente capacidade de expressão no português. Considerando que a linguagem dos textos de referência em nível universitário não costuma ser trivial, o risco é grande, e o trecho original estará na nota de rodapé para o leitor confrontar com sua tradução e julgá-la — havendo inclusive aquele leitor para o qual achar um erro nela será o principal prazer ao ler seu texto.
A solução para eliminar esse risco é obter uma tradução profissional para os textos de referência que embasam seu trabalho, o que pode ser conseguido sem gastar muito por meio da Plataforma Win-Win. É provável que outras pessoas no seu curso, na sua universidade ou em outras instituições pelo Brasil também precisem da tradução do mesmo texto que você. Criando um projeto de tradução na Win-Win, você pode se juntar a elas para dividirem o custo e tê-lo traduzido por um tradutor profissional, pagando uma fração do valor desse serviço cada uma. Assim, além de compreender melhor o texto, você poderá citar com tranquilidade e dispensar o “tradução nossa”, bastando incluir o texto traduzido na lista de referências.
Por exemplo, se fosse citar um trecho deste texto que foi traduzido por meio da Win-Win, bastaria colocar, após a citação, “(RUSSELL, 2019, p. ##)” (sem as aspas e com o número correto da página) e, na lista de referências:
RUSSEL, Debra. Interpretação jurídica/em tribunal. Tradução: Beatriz Medina. Disponível em: https://win-win.net.br/site/projetos/concluidos. Acesso em: 1 abr. 2020. Título original: Court/Legal interpreting.
No lugar de “1 abr. 2020” iria, nesse mesmo formato, a última data em que você acessou a tradução.
Se quisesse, opcionalmente, para dar mais informações ao seu leitor (ou mostrar ao orientador que pesquisou bastante 😉), poderia citar o trecho correspondente do original em nota de rodapé, colocando entre parênteses e na lista de referências as informações bibliográficas dele também.
Espero que com os exemplos disponíveis no nosso modelo ABNT, as dicas técnicas acima sobre como fazer as citações e essa dica prática de como ter uma boa tradução dos materiais de referência, seu trabalho fique redondinho e mostre como você se apoiou nos “ombros de gigantes” para ver mais longe.
Uma última dica: planeje-se para criar projetos de tradução o quanto antes para os textos mais importantes para o seu trabalho, para dar tempo de já estarem traduzidos quando precisar citá-los.
Até a próxima!