Como usar recursos da CAPES para publicar seu artigo em inglês

Como usar recursos da CAPES para publicar seu artigo em inglês

Um dos artigos mais lidos do nosso blog é o que explica como utilizar os recursos da reserva técnica de bolsas e auxílios da FAPESP para pagar pelo serviço de tradução de artigos científicos visando à publicação. Percebi que o texto foi bastante útil para vários pesquisadores do Estado de São Paulo, que têm acesso aos recursos da FAPESP, por isso resolvi pesquisar alternativas semelhantes que pudessem ser utilizadas por pesquisadores de outros estados também. Uma opção de alcance nacional, ou seja, que pode ser utilizada por pesquisadores de todo o Brasil, são os recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio de dois programas: o Programa de Apoio à Pós-Graduação (PROAP) e o Programa de Excelência Acadêmica (PROEX).

Diferentemente das bolsas e auxílios da FAPESP, os recursos da CAPES não são destinados diretamente ao pesquisador, mas sim distribuídos aos programas de pós-graduação das universidades (no caso do PROEX, com a exigência de manterem conceito 6 ou 7 na avaliação da CAPES). São as instituições de ensino superior que administram a aplicação desses recursos, obedecendo às destinações previstas no regulamento dos dois programas.

A utilização plena e eficiente dessas verbas é importante, pois influencia na definição dos valores destinados aos programas de pós a cada ano:

Art. 4º O valor de referência para o repasse de recursos financeiros relativos aos PPGs [programas de pós-graduação] será fixado anualmente em função da disponibilidade orçamentária da CAPES e dos critérios abaixo:
[…] 
II – critérios subsidiários:
 […]
c) grau de utilização dos recursos do PROAP em exercícios anteriores. (Portaria nº 156, de 28 de novembro de 2014, grifo meu)

Art. 2º A instituição participante do PROAP deverá:
[…]
IX – solicitar à CAPES, caso necessário, remanejamento de recursos entre os PPGs, de forma a otimizar sua execução plena (Portaria nº 156, de 28 de novembro de 2014, grifo meu)

Usar os recursos para publicação de artigos é uma boa maneira de garantir a sua utilização, já que se trata de uma necessidade frequente dos pesquisadores e das instituições. É uma boa alternativa especialmente no contexto atual, em que a pandemia de Covid-19 tem limitado a possibilidade de alguns outros usos, como a organização de eventos ou a participação neles.

O uso para pagar despesas de tradução está previsto exatamente da mesma forma no regulamento do PROAP e do PROEX:

I – Elementos de despesa:
[…]
b) serviços de terceiros (pessoa jurídica);
c) serviços de terceiros (pessoa física);

I – Atividades:
[…]
e) produção, revisão, tradução, editoração, confecção e publicação de conteúdos científico-acadêmicos e de divulgação das atividades desenvolvidas no âmbito dos PPGs (Portaria n.º 034 , de 30 de maio 2006 / Portaria nº 156, de 28 de novembro de 2014, grifo meu)

Assim como destaquei no texto sobre a reserva técnica da FAPESP, também com a CAPES é essencial ter em mente a necessidade de prestação de contas. Lá esbocei inclusive um passo a passo para conseguir uma boa tradução utilizando os recursos da reserva técnica e cumprindo as exigências da FAPESP para prestar contas depois. No caso do PROAP e do PROEX, como a verba é administrada pelo programa de pós, os processos podem variar. Alguns programas lançam editais específicos ou definem normas próprias para a solicitação dos recursos.

Portanto, o primeiro passo para o pesquisador interessado em utilizar essa verba é consultar o programa de pós-graduação do qual faz parte sobre sua disponibilidade e sobre o procedimento para utilizá-la. Em alguns casos, o programa pede que sejam obtidos três orçamentos de empresas diferentes, embora os valores desse tipo de serviço costumem ficar dentro do limite para dispensa de licitação.

Em seguida, pode-se solicitar um orçamento na plataforma Win-Win clicando em “Quero uma tradução” e seguindo as orientações em tela para criar um projeto de tradução. Quando um dos tradutores da plataforma orçar o serviço, o pesquisador encaminha o orçamento para o programa de pós-graduação. Se for necessário, pode entrar em contato com a Win-Win para solicitar o orçamento formalizado em PDF com timbre da empresa e eventuais informações adicionais exigidas por seu programa. Também é possível verificar com a Win-Win a possibilidade de negociação com o tradutor, quando for necessário mais de um orçamento e o obtido na plataforma não tiver sido o de menor valor.

Quando os recursos forem liberados, é só acessar o projeto de tradução, aprovar o orçamento e seguir as orientações da pós para realizar o pagamento. Quando a tradução estiver pronta (ou antes, se necessário), é preciso enviar para a Win-Win os dados que devem constar na nota fiscal para a prestação de contas, também conforme for orientado pelo programa de pós.

Pronto! Aí é só submeter o artigo traduzido à revista que tiver escolhido e enviar a nota fiscal para a pós incluir na prestação de contas.

Tentei explicar de uma forma simples, mas tenha em mente que esses processos não costumam ser rápidos. Então cuidado se houver um prazo para submissão à revista ou para uso dos recursos. O artigo precisa estar pronto com uma boa antecedência para que seja possível fazer todo o trâmite e ter a tradução pronta a tempo.

Cabe ainda fazer a ressalva de que não faço parte da CAPES nem de nenhuma instituição de pesquisa, então as informações prestadas aqui basearam-se exclusivamente no estudo dos regulamentos dos dois programas, que podem ser encontrados nos links fornecidos acima. Qualquer dúvida, o melhor é consultar o próprio programa de pós.

E caso alguma informação aqui esteja incompleta, imprecisa ou pouco clara, agradeço muito por comentários que ajudem a emendar ou melhorar o texto.

Obrigado a quem chegou até aqui e até o próximo post!

COMO USAR A RESERVA TÉCNICA DA FAPESP PARA PUBLICAR SEU ARTIGO EM INGLÊS

COMO USAR A RESERVA TÉCNICA DA FAPESP PARA PUBLICAR SEU ARTIGO EM INGLÊS

ATUALIZAÇÃO: Em maio de 2021, a FAPESP atualizou suas Normas para Uso de Recursos e Prestação de Contas de Auxílios e Bolsas. Embora o uso da reserva técnica não tenha sido alterado, a forma de prestar contas mudou, por isso atualizei o texto para adequá-lo às normas vigentes. 

 

Ser pesquisador no Brasil não é fácil por uma série de questões políticas, econômicas, estruturais. Mas, além de tudo, no momento de divulgar as próprias descobertas, o pesquisador brasileiro tem que se haver com uma dificuldade extra que um pesquisador americano, por exemplo, não teria: a necessidade de publicá-las numa língua que não é a sua.

Apesar de haver muitas revistas científicas brasileiras, é difícil conseguir maior alcance e projeção para o próprio trabalho sem publicar em inglês em periódicos internacionais (ou mesmo nos nacionais). Muitos pesquisadores tentam escrever seus artigos diretamente em inglês, ou traduzi-los por conta própria. Porém, mesmo tendo bons conhecimentos da língua inglesa e familiaridade com o assunto, é muito comum acabarem incorrendo em problemas linguísticos que podem levar a revista a recusar o artigo ou devolvê-lo para correções.

Então, contratar o serviço de um tradutor profissional pode ser mais seguro, e a plataforma Win-Win facilitou muito o trabalho de encontrar profissionais qualificados. Porém, como qualquer pesquisador sabe por si próprio, trabalho qualificado tem seu preço, e muitas vezes esse preço é mais alto do que ele pode investir. A Win-Win tenta fornecer possibilidades para resolver esse impasse, facilitando que coautores e outros interessados na tradução dividam o custo da tradução, num modelo de “vaquinha” virtual, e mais recentemente permitindo o parcelamento de valores mais altos. Mas existe também a possibilidade de conseguir recursos institucionais para pagar por esse serviço, e um bom exemplo é por meio da reserva técnica dos auxílios e bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), de que vou tratar aqui.

 

Uso da reserva técnica para tradução de artigos

A FAPESP é uma das principais instituições de apoio à pesquisa do Brasil, financiando milhares de bolsas e auxílios em diferentes modalidades: mestrado, doutorado, pós-doutorado, estágio no exterior, jovem pesquisador, projetos temáticos, pesquisa em pequenas empresas, entre muitas outras. Em muitas dessas modalidades de apoio, a FAPESP inclui nos recursos concedidos um valor adicional a título de reserva técnica, para atender a despesas imprevistas e diretamente relacionadas ao projeto financiado. Entre as possibilidades de uso desse recurso adicional, descritas nas Normas para Utilização dos Recursos da Reserva Técnica Concedidos pela FAPESP, está a tradução de artigos visando à publicação.

No caso de auxílios, essa possibilidade está listada em 5.1.2.2:

As possíveis aplicações da Parcela para Custos de Infraestrutura Direta do Projeto, de responsabilidade do Outorgado, são:

[…]

d) Tradução, versão e revisão de texto, desde que com vistas à publicação. (https://fapesp.br/rt)

Já em relação às bolsas, a tradução de artigos pode ser enquadrada na categoria “serviços de terceiros”:

4.6.3 Serviços de Terceiros:

a) Entende-se que o pagamento deste serviço seja para realização de atividades estritamente relacionadas com o projeto da Bolsa e que por sua natureza não possam ser desenvolvidas pelo outorgado. (https://fapesp.br/rt)

Porém, como essa possibilidade não está explicitamente listada nas Normas na parte referente a bolsas, achei melhor escrever para o Converse com a FAPESP para tirar a dúvida antes de escrever este artigo. A resposta que obtive da Gerência de Auditoria da Fundação confirmou minha interpretação de que a reserva técnica de bolsa também pode ser utilizada para traduções:

A especificação da finalidade de publicação é importante, já que os recursos não podem ser usados para tradução de trabalhos para apresentação em eventos, por exemplo, conforme explicitamente vetado nas normas referentes à reserva técnica de bolsas:

4.9 Itens não financiáveis com a Reserva Técnica:

Os itens abaixo não poderão ser objeto de despesa com os recursos concedidos. A utilização desses recursos para aquisição ou pagamento implicará na restituição à FAPESP dos valores correspondentes.

[…]

4.9.6 Participação em Reunião Científica ou Tecnológica no Brasil ou no exterior:

[…]

i) Revisão de texto, tradução e versão. (https://fapesp.br/rt

Utilização do recurso e prestação de contas

Como se trata de recursos públicos, é importante ter sempre em mente a necessidade de prestação de contas, cuidando de reunir todos os comprovantes e atender as exigências da FAPESP descritas em suas Normas para Uso de Recursos e Prestação de Contas de Auxílios e Bolsas (atualizadas em maio de 2021).

O processo ideal para conseguir uma boa tradução para seu trabalho cumprindo todas as exigências da FAPESP é:

1. Conclua a escrita do artigo com antecedência suficiente para a tradução. Assim como você e os outros autores levaram tempo para escrevê-lo, o tradutor também precisará de tempo para traduzi-lo. Além disso, é necessário tempo para o processo de obter um orçamento para o trabalho, solicitar a liberação dos recursos pela FAPESP, fazer o pagamento. É difícil estabelecer uma antecedência mínima necessária, pois ela depende da dificuldade do artigo, de sua extensão, da disponibilidade dos tradutores, entre outros fatores, mas quanto maior a antecedência, melhor. Procure se planejar com os demais autores para terminarem a escrita algumas semanas antes do prazo para envio à revista.

2. Crie um projeto de tradução na plataforma Win-Win clicando em “Quero uma tradução” e em seguida em “Quero a tradução de um conteúdo privado, salvo em um arquivo”. É preciso fazer login ou criar uma conta, se não tiver (nos dois casos, coisa rápida). Em seguida, basta inserir as informações solicitadas, clicar em “Selecionar arquivo(s)” e, na página seguinte, anexar o artigo a ser traduzido e concluir o envio para orçamento.

Tela de criação de projeto de tradução na plataforma Win-Win. Mostra todos os campos a serem preenchidos e o botão "Selecionar arquivo(s)"

3. Os tradutores cadastrados na plataforma serão notificados e um deles fará um orçamento para a tradução do artigo. Você receberá um aviso por e-mail para acessar o projeto e verificar o orçamento. Se o valor estiver dentro dos recursos disponíveis na sua reserva técnica, já aprove o orçamento para o tradutor saber que você tem interesse no serviço.

4. Solicite a liberação dos recursos conforme as instruções em fapesp.br/financeiro. É bastante simples fazer a solicitação e o dinheiro é liberado em no máximo dois dias úteis.

5. Quando os recursos forem liberados, acesse o projeto de tradução na Win-Win, clique em Pagar e siga os passos para concluir o pagamento. É só a partir do pagamento que o tradutor inicia o trabalho. Como os recursos da FAPESP geralmente são administrados por meio de um cartão enviado ao pesquisador, não deve haver problemas para finalizar o pagamento diretamente na plataforma, mas, se tiver alguma dificuldade, pode entrar em contato com a Win‑Win.

6. Quando a tradução estiver pronta, ficará disponível na sua conta na plataforma e você receberá um aviso por e-mail. Depois de abrir e conferir o arquivo, envie um e-mail para contato@win-win.net.br informando os dados que precisam constar na nota fiscal, como o número do processo FAPESP e os dados do outorgado ou bolsista, em nome de quem deve ser emitida a nota (cf. itens 3a e 3.2a das Normas).

7. Pronto! Pode enviar a tradução para o periódico e guardar a nota fiscal que a Win‑Win enviar para incluir na prestação de contas ao final da vigência do auxílio ou bolsa. Se preferir, também já pode preencher as informações na prestação de contas pelo sistema SAGe da FAPESP, para adiantar (cf. itens 4.1 e 4.2 das Normas).

Além da prestação de contas, a FAPESP pede que o outorgado descreva o uso dos recursos da reserva técnica em cada relatório científico enviado durante a vigência do auxílio ou bolsa, com especial cuidado em relação à contratação de serviços de terceiros, como é o caso da tradução:

4.6.3 Serviços de Terceiros:

[…]

b) Toda despesa efetuada deve ser justificada, dando-se especial atenção aos gastos com serviços de terceiros que, eventualmente, excedam a 20% do valor total da reserva concedida. Nos casos em que tais gastos sejam imprescindíveis, a despesa deverá ser detalhadamente justificada por ocasião da apresentação do Relatório Científico imediatamente posterior. (https://fapesp.br/rt)

Vale a pena!

Apesar do trabalho um pouco maçante da prestação de contas, a disponibilidade da reserva técnica nos projetos financiados pela FAPESP é um excelente recurso para atender as necessidades da pesquisa, e a possibilidade de usá-la para conseguir uma tradução de qualidade pode fazer a diferença entre ter um artigo aceito ou não para publicação. E, uma vez que o artigo seja aceito, também é possível usar recursos da reserva técnica para pagar a taxa de publicação do periódico, caso haja, conforme listado no item 5.1.2.2c das Normas (infelizmente apenas no caso de auxílios; esse uso não é previsto para reserva técnica de bolsas):

[…]

c) Pagamento de taxas de publicação de artigos e aquisição de separatas. (https://fapesp.br/rt)

Portanto, vale a pena estudar o orçamento do seu projeto e se organizar para usar parte da verba dessa forma. Caso não tenha nenhuma bolsa ou auxílio, verifique com os coautores do artigo, se houver, ou com seu orientador, se não têm algum projeto financiado pela FAPESP com recursos da reserva técnica disponíveis para esse uso.

É importante ressaltar que, embora eu tenha estudado cuidadosamente as normas da FAPESP para escrever este artigo com informações o mais corretas e atualizadas possível, é sempre bom consultar diretamente as normas vigentes no site da FAPESP antes de utilizar o recurso e, em caso de dúvidas, entrar em contato com o Converse com a FAPESP.

E você, conhece alguma outra fonte de recursos que pode ser usada para traduzir artigos para publicação? Se conhecer, deixe a dica nos comentários para ajudar seus pares e contribuir para a divulgação da ciência brasileira.

 
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VÍRGULAS NO PORTUGUÊS: O SEGREDO

VÍRGULAS NO PORTUGUÊS: O SEGREDO

VÍRGULAS NO PORTUGUÊS: O SEGREDO

“O segredo que os aplicadores de provas não querem que você saiba.”

“Donos de cursinho estão de cabelo em pé com este segredo que está se espalhando entre os estudantes.”

“Garota da região de <IP_location> descobriu este segredo e nunca mais voltou às aulas de gramática.”

Hahaha Não é nada disso. E o que vou explicar no artigo de hoje não é segredo no sentido de “que ninguém deve saber”, “não pode ser divulgado”, “é sabido por poucos”, pegando emprestadas partes das definições do Aulete on-line. Estaria mais para “parte mais difícil e essencial de uma arte, ciência etc.”, da definição 7 do mesmo dicionário, só que não é difícil, como vou mostrar a seguir.

A vírgula no português não é nenhum símbolo esotérico — e também não é orégano para se salpicar a gosto no texto. Ela é usada seguindo, mais do que regras, uma lógica, e essa lógica tem uma questão central que vou explicar aqui. Tendo-a em mente, fica fácil entender, ou até deduzir, as regras mais específicas.

É preciso um pouco de análise sintática, mas sem toda aquela complicação de nomenclaturas assustadoras, do tipo “oração subordinada substantiva objetiva direta” e similares. Vamos simplesmente analisar a sintaxe, que nada mais é que a organização da estrutura das frases — vou inclusive chamar tudo de frase, sem preocupação com distinções entre frase, oração, período… Os gramáticos hão de me perdoar a imprecisão em troca de uma explicação mais eficaz.

Então, partindo do básico e sem esquentar a cabeça com nomenclaturas, vamos lembrar que a ordem típica de palavras numa frase em português é sujeito-verbo-objeto, que é o velho “sujeito e predicado” lá do ensino fundamental, com o predicado se desdobrando em um verbo e um objeto, ou dois, em alguns casos. O núcleo essencial é o verbo, tanto que podem existir frases sem sujeito (“Choveu.”), com sujeito subentendido (“Cheguei.”) e sem objeto (“O menino nasceu.”, além dos dois exemplos anteriores). Mas muitas vezes o verbo não faz sentido sem um complemento, que então é chamado de objeto:

Roberto comprou flores.

O cachorro trouxe a bolinha.

Adriana ingressou na universidade.

O oficial entregou a intimação ao rapaz.

Veja que, em todas as frases, o verbo destacado não faz sentido sem o complemento que vem depois (ou complementos, no caso da última). Cada uma dessas partes essenciais pode ser mais longa, até mesmo uma oração inteira, mas, achando o verbo ou a locução verbal que expressa a ação principal, é fácil ver quem fez a ação (sujeito) e quem sofreu a ação (objeto):

A mulher que ele amava desde a adolescência | tinha acabado de dizer | as mais belas palavras já ouvidas por ele.

Depois da sequência básica de sujeito-verbo-objeto, podem vir outros complementos não obrigatórios, que se diferenciam dos objetos do verbo justamente por não serem obrigatórios:

Adriana ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul numa tarde chuvosa do mês de março de 2019.

Percebeu o uso das vírgulas nos exemplos usados?

Exatamente! Não há vírgula nenhuma. E aí está o ponto: quando a construção da frase segue a ordem mais natural de sujeito-verbo-objeto, seguida ou não de complementos opcionais, não são necessárias vírgulas, por mais longa que seja (derrubando aquela ideia de que vírgula serve para respirar):

Uma das figuras mais controversas da História do Brasil tirou a própria vida com um tiro no peito naquela madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954 em que escreveu a carta que se tornaria célebre pela frase de fechamento de sua polêmica versão datilografada.

Se fosse necessária uma vírgula para respirar, seria difícil sobreviver à leitura desse exemplo.

As vírgulas se tornam necessárias quando essa ordem é rompida. Esse rompimento pode ocorrer, por exemplo: 

  • Pela inversão dos elementos:

Ao rapaz, o oficial entregou a intimação.

No mês de março de 2019, Adriana ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

No mês de março de 2019, Adriana ingressou, numa tarde chuvosa, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

  • Pela inserção de explicações ou outras observações no início ou no meio da frase (quando no meio, são isoladas por vírgulas antes e depois):

Ainda apaixonado, Roberto comprou flores para ela.

Por fim, o cachorro trouxe a bolinha.

Adriana ingressou, depois de muito empenho e estudo, na universidade que desejava.

Adriana, que sempre tinha estudado muito, conseguiu ingressar na universidade.

Getúlio Vargas, uma das figuras mais controversas da História do Brasil, suicidou-se em agosto de 1954.

Ingressou na instituição que queria, ou seja, na Universidade Federal de Santa Catarina.

  • Pelo acréscimo de uma oração dependente (subordinada) da principal:

Assinado o papel, o oficial entregou a intimação ao rapaz.

O oficial, depois de pedir sua assinatura, entregou a intimação ao rapaz.

O oficial entregou a intimação ao rapaz, pedindo em seguida que ele assinasse o papel.

  • Pelo acréscimo de um vocativo para se dirigir ao interlocutor:

Marcelo, viu que Adriana entrou na universidade?

Era a mulher, cara leitora, que ele amava desde a adolescência.

Você foi aprovada, Adriana.

  • Pela omissão de elementos subentendidos:

Entrei na universidade em 2018; Adriana, em 2019.

São muitas as situações em que se usam vírgulas e os exemplos acima certamente não cobrem todas elas, mas a intenção era apenas mostrar uma lógica que permeia boa parte de seus usos. De fato, grande parte das regras para usá-las, ainda que enunciadas de outra forma, podem ser compreendidas pensando nesse aspecto da quebra da ordem mais linear das palavras. E a explicação também é fácil de compreender: quando a ordem mais natural é rompida, a frase ficaria mais difícil de entender se não fossem as vírgulas separando os elementos que estão “fora de lugar” ou “sobrando”. Veja como ficariam confusos ou ambíguos alguns dos últimos exemplos acima sem elas:

Marcelo viu que Adriana entrou na universidade?

Era a mulher cara leitora que ele amava desde a adolescência.

Não é nenhum macete espetacular nem a fórmula mágica da pontuação, mas espero que perceber essa lógica (e desmistificar um pouco a análise sintática) ajudem você a usar com mais segurança e correção a vírgula nos seus textos.

Consegue pensar em regras que aprendeu de outra forma e fazem sentido por essa perspectiva? Tem algum exemplo que não se encaixa nela? Coloque aqui nos comentários para discutirmos ou até reunirmos assunto para um novo artigo sobre pontuação.

COMO CITAR TEXTOS EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

COMO CITAR TEXTOS EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

Uma dúvida frequente de quem está escrevendo um texto acadêmico é como fazer citações. Num trabalho baseado em pesquisa, é natural e recomendável citar textos de referência e trabalhos de outros pesquisadores para embasar suas descobertas e afirmações. E é imprescindível citar corretamente, indicando as fontes para não incorrer em plágio.

As normas gerais de apresentação das citações são estabelecidas na norma NBR 10520:2001 – Apresentação de citações em documentos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e é fácil não errar nelas usando o modelo ABNT que disponibilizamos para download. Porém, uma questão que a ABNT não aborda em detalhes é como citar um trecho de um texto em língua estrangeira. Como fazer quando o texto citado não está em português? A NBR 10520 diz apenas que, quando a citação contiver texto traduzido por você, deverá incluir, entre parênteses, a expressão “tradução nossa”.

Assim, um exemplo seria: 

“Não se pode fazer um trabalho acadêmico sobre um autor ou um assunto lendo apenas as obras escritas nas línguas que conhecemos.” (ECO, 2001, p. 34, tradução nossa). 

E, na lista de referências, constariam as informações sobre o texto original em italiano:

ECO, Umberto. Come si fa una tesi di laurea: Le materie umanistiche. 12. ed. Milano: Bompiani, 2001.

Veja que a norma da ABNT não diz que é obrigatório traduzir, porém é uma boa prática e um sinal de boa vontade e respeito com seus leitores fazer isso, em vez de exigir que todos eles entendam o idioma estrangeiro. Além disso, é importante apresentar também o texto original, podendo ficar a tradução no texto e o original em nota de rodapé, como sugerido neste material da ESPM, ou o contrário, como sugerido neste material da UFSC — mas é importante escolher um padrão e segui-lo ao longo do trabalho todo. Pessoalmente, gosto mais da tradução no texto e o original no rodapé, para a leitura ficar mais fluida e o leitor que não conhece a língua estrangeira não precisar interromper a leitura e procurar a tradução na nota.

Em relação à apresentação da citação em língua estrangeira, é basicamente isso. Resta um problema, porém: o “tradução nossa” nesse caso indica que foi você esse “nós” que fez a tradução. Ou seja, como só conseguiu o texto de referência no idioma original, quase sempre porque ele ainda não foi traduzido no Brasil, coube a você o trabalho de traduzir o trecho citado. E, por mais que entenda do assunto e compreenda o texto original, traduzir é uma tarefa complicada, pois exige, além de um conhecimento profundo do idioma original, também uma excelente capacidade de expressão no português. Considerando que a linguagem dos textos de referência em nível universitário não costuma ser trivial, o risco é grande, e o trecho original estará na nota de rodapé para o leitor confrontar com sua tradução e julgá-la — havendo inclusive aquele leitor para o qual achar um erro nela será o principal prazer ao ler seu texto.

A solução para eliminar esse risco é obter uma tradução profissional para os textos de referência que embasam seu trabalho, o que pode ser conseguido sem gastar muito por meio da Plataforma Win-Win. É provável que outras pessoas no seu curso, na sua universidade ou em outras instituições pelo Brasil também precisem da tradução do mesmo texto que você. Criando um projeto de tradução na Win-Win, você pode se juntar a elas para dividirem o custo e tê-lo traduzido por um tradutor profissional, pagando uma fração do valor desse serviço cada uma. Assim, além de compreender melhor o texto, você poderá citar com tranquilidade e dispensar o “tradução nossa”, bastando incluir o texto traduzido na lista de referências.

Por exemplo, se fosse citar um trecho deste texto que foi traduzido por meio da Win-Win, bastaria colocar, após a citação, “(RUSSELL, 2019, p. ##)” (sem as aspas e com o número correto da página) e, na lista de referências:

RUSSEL, Debra. Interpretação jurídica/em tribunal. Tradução: Beatriz Medina. Disponível em: https://win-win.net.br/site/projetos/concluidos. Acesso em: 1 abr. 2020. Título original: Court/Legal interpreting.

No lugar de “1 abr. 2020” iria, nesse mesmo formato, a última data em que você acessou a tradução.

Se quisesse, opcionalmente, para dar mais informações ao seu leitor (ou mostrar ao orientador que pesquisou bastante 😉), poderia citar o trecho correspondente do original em nota de rodapé, colocando entre parênteses e na lista de referências as informações bibliográficas dele também.

Espero que com os exemplos disponíveis no nosso modelo ABNT, as dicas técnicas acima sobre como fazer as citações e essa dica prática de como ter uma boa tradução dos materiais de referência, seu trabalho fique redondinho e mostre como você se apoiou nos “ombros de gigantes” para ver mais longe.

Uma última dica: planeje-se para criar projetos de tradução o quanto antes para os textos mais importantes para o seu trabalho, para dar tempo de já estarem traduzidos quando precisar citá-los.

Até a próxima!

COMO USAR NOSSO MODELO PARA SE ADEQUAR ÀS NORMAS DA ABNT

COMO USAR NOSSO MODELO PARA SE ADEQUAR ÀS NORMAS DA ABNT

COMO USAR NOSSO MODELO PARA SE ADEQUAR ÀS NORMAS DA ABNT

Dias atrás publiquei um artigo sobre as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e disponibilizei um documento do Word com um modelo que pode facilitar muuuuito a escrita de um trabalho acadêmico. Quem já baixou deve ter percebido que ele é bastante autoexplicativo, mas vou escrever aqui sobre como usá-lo para quem não baixou ainda ver se pode ser útil.

O modelo tem a estrutura de uma dissertação ou tese, mas pode ser adaptado para fazer TCCs, trabalhos de disciplina ou artigos também. É só pegar as partes que servem para cada situação — no caso de artigo, é importante observar também se não há normas editoriais específicas do periódico para o qual vai enviá-lo.

O primeiro passo depois de baixar o arquivo é fazer uma cópia dele, de modo que possa reutilizar o modelo outras vezes no futuro. Depois é só ir digitando cada parte em seu lugar, por cima dos textos de preenchimento.

Vários dos elementos pré-textuais e pós-textuais são opcionais (dedicatória, agradecimentos, epígrafe, listas, apêndices, anexos), mas é importante ter cuidado ao apagá-los, pois há quebras de seção entre eles que ajudam a manter a formatação bonitinha. Use o botão ¶ ou Ctrl+Shift+8 no Word para visualizar essas quebras e procure não apagá-las (ou apagar as quebras certas) de modo a manter a formatação.

No sumário e nas listas, não precisa mexer enquanto seu trabalho não estiver completo. Quando estiver, é só clicar em cada um com o botão direito e selecionar “Atualizar Campo”.

O grande segredo do modelo (inclusive para o funcionamento automático do sumário) são os estilos do Word. Como já mencionei, se não sabe usar estilos, procure aprender, pois vão lhe poupar muito tempo e trabalho. No documento, há uma série deles com “ABNT” no nome. Eles contêm a formatação de acordo com ABNT para cada elemento do texto. Por exemplo, os parágrafos estão no estilo “ABNT_Corpo de texto”, os subtítulos em “ABNT_Título 1”, “ABNT_Título 2”, etc., e as citações com mais de três linhas em “ABNT_Citação”.

Por falar em citações, sempre que citar, já corra lá na seção Referências e registre a referência completa da obra citada. Acredite: deixar para fazer isso com todas no final não é uma boa ideia. Para ajudar, há modelos lá para os principais tipos de referência.

O documento também tem atalhos configurados para os principais estilos. Para aplicá-los em novos parágrafos que escrever, é só usar o atalho correspondente:

 

Você também pode notar algumas minúcias, como um estilo diferente de corpo de texto na linha em branco após cada título, que evita aquela coisa chata de um título ficar sozinho no final de uma página enquanto o texto cai para a página seguinte. Neste documento isso não acontece — desde que os estilos sejam preservados.

Também há exemplos de inserção de figura, quadro e tabela. Siga-os para inserir os seus, mas cuide de colocar a legenda com o título do elemento corretamente, clicando nele com o botão direito e selecionando “Inserir legenda…”. Com isso, o Word vai numerá-los em sequência e você poderá atualizar as listas e o sumário do início automaticamente, como explicado mais acima. Caso precise alterar a ordem deles, lembre-se de clicar com o botão direito no número do elemento na legenda e selecionar “Atualizar Campo”.

É isso! O resto é com você. Espero que este modelo o ajude a sentir o prazer que dá fazer um trabalho bem feito. Se gostar, compartilhe este post e deixe um comentário sobre o que achou mais útil. Se não gostar, deixe suas sugestões de como ele poderia ficar melhor. 😉 

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