DICAS PARA ENCONTRAR FONTES CONFIÁVEIS PESQUISANDO NO GOOGLE
Entrar na universidade é também entrar no mundo da ciência, da pesquisa séria. Enquanto até o ensino médio temos contato principalmente com o conhecimento assentado, consensual, consolidado há décadas, séculos ou até milênios, no ensino superior nos aproximamos de algumas fronteiras do conhecimento. Em muitos momentos na graduação e na pós, nossa tarefa é justamente estudar até onde vai o conhecimento humano sobre determinado assunto específico e encontrar uma maneira de investigar um ponto desconhecido para empurrar essas fronteiras um pouco adiante.
É para isso que servem os trabalhos de conclusão de curso, monografias, artigos, dissertações e teses que você escreve ao longo do curso universitário (além de ajudá-lo a se formar, tanto no sentido pessoal quanto no oficial). E pesquisar, portanto, é um dos verbos essenciais da vida acadêmica.
Nos anos 1970, Umberto Eco publicou um livro chamado Come si fa uma tesi di laurea, que foi lançado no Brasil com o título Como se faz uma tese, embora o sentido do título original esteja mais para “Como se faz um trabalho de conclusão de curso”. Nele, o famoso escritor, filósofo, semiólogo e linguista italiano dá orientações detalhadas para trilhar todo o percurso de produção de um trabalho acadêmico, desde a escolha do tema até a redação definitiva. É uma obra que ainda hoje vale a pena ler, mas algumas orientações ficaram bem datadas e ilustram, saborosamente, como o acesso ao conhecimento mudou no último meio século.
No capítulo sobre a pesquisa do material, por exemplo, Eco faz uma subseção chamada “Como usar a biblioteca”, incluindo a dica de “superar a timidez” e pedir ajuda ao bibliotecário, pois “(afora os casos de diretores muito ocupados e neuróticos) um diretor de biblioteca, principalmente se for pequena, se delicia em demonstrar duas coisas: a excelência de sua memória e de sua erudição e a riqueza da biblioteca que dirige” (ECO, 1977, p. 44). É claro que ainda hoje se usam bibliotecas e pode-se consultar o bibliotecário, mas é muito provável que você fará grande parte das suas pesquisas por meio da Internet (com maiúscula, aderindo ao argumento do Roney Belhassof no seu último artigo).
Sem dúvida, a Internet aumentou exponencialmente nossa capacidade de encontrar informações, mas há décadas Tio Ben nos ensina que grandes poderes trazem grandes responsabilidades, não é? No caso da Internet, diante de uma abundância tão pujante de informações, uma das principais responsabilidades do pesquisador é conseguir encontrar informação relevante e confiável. Se tratarmos o Google como um oráculo, ele é capaz de confirmar praticamente qualquer informação.
Mas o próprio Google tem recursos que permitem fazer pesquisas mais refinadas, de modo a encontrar fontes seguras e, consequentemente, informações mais confiáveis. Abaixo comento algumas dicas para aproveitar esses recursos.
Pesquisar no Google Livros
Na média, é esperado que no Google Livros se encontrem informações mais confiáveis que na pesquisa geral do Google. Ainda que meu pai já dissesse que “O papel tudo aceita”, certamente uma página da Internet aceita mais ainda. Pesquisando em livros, você encontrará informações que pelo menos passaram por algum filtro (revisor, editor, etc.) além da cabeça de quem escreveu.
No caso de livros antigos, em domínio público, é possível muitas vezes acessar obras completas que você não encontraria na biblioteca da sua universidade ou da sua cidade. E, mesmo que encontrasse, teria que folhear até encontrar a informação de que precisa, em vez de simplesmente clicar num link.
Em outros casos apenas uma parte do livro está disponível, mas pode ser que a informação de que você precisa esteja bem nessa parte. Mesmo que não estiver, ou que o livro todo esteja indisponível, o Google Livros pode ser um ponto de partida muito útil para a compra de livros ou a ida à biblioteca que o Umberto Eco orientava. É muito melhor comprar um livro ou ir procurá-lo na biblioteca se você já pesquisou e sabe que dentro dele está o que você procura.
Por falar nisso, além da caixa de busca do Google Livros, utilize a caixa de busca interna dos livros encontrados para pesquisar seu conteúdo.
Pesquisar no Google Acadêmico
Além de livros, é possível pesquisar apenas em artigos, trabalhos acadêmicos, jornais de universidades utilizando o Google Acadêmico. Um pouco mais escondido que o Google Livros, para acessá-lo é preciso ir até scholar.google.com (ou, é claro, pesquisar por Google Acadêmico… no Google).
No painel à esquerda dos resultados, há algumas opções interessantes, especialmente o filtro por período, que permite, por exemplo, se concentrar em artigos mais recentes, ou, pelo contrário, estudar fontes de um período específico do passado.
Usar recursos de pesquisa avançada
Simplesmente digitar palavras na caixa de busca do Google geralmente traz milhares ou milhões de resultados, mas muitas você não encontra o que precisa em meio à enxurrada de resultados ou encontra muitos sites em que não dá para confiar. Com algumas estratégias de refinamento das buscas, porém, é possível reduzir a quantidade e aumentar a qualidade e relevância dos resultados.
- Pesquise por expressões exatas: digite as palavras entre aspas para que o Google mostre apenas sites contendo a expressão completa pesquisada e não sites contendo suas palavras isoladamente.
- Direcione a busca para sites específicos, de fontes oficiais ou fidedignas, por exemplo:
- Sites de universidades estrangeiras, usando site:.edu na busca (site:.edu.br também existe, mas infelizmente são poucas as universidades brasileiras que usam domínios com essa terminação);
- Sites de órgãos do governo brasileiro (nas esferas municipal, estadual e federal), usando site:.gov.br;
- Sites do governo de outros países (Estados Unidos, Reino Unido, Itália, etc.)
- Sites específicos de autoridades em determinado assunto (ex.: Anvisa ou OMS na área da saúde, Embrapa na pecuária…)
- Use a ferramenta de datação para buscar em fontes recentes ou de um período específico.
- Defina país, idioma, tipo de arquivo, entre outras especificações para sua pesquisa, utilizando a busca avançada do Google.
Pesquisa em outros idiomas
Muitas vezes as informações que você busca estão disponíveis na Internet em outros idiomas além do português. Mesmo estudos realizados por pesquisadores brasileiros ou de outros países não anglófonos com frequência são publicados em artigos em inglês, que acabou se tornando a língua franca da ciência na atualidade.
Por isso, é importante traduzir os termos da sua busca e pesquisá-los também em inglês ou no idioma de países em que a sua área é mais avançada.
Depois, se não dominar o idioma dos resultados encontrados, pode usar primeiro uma ferramenta de tradução automática, como o próprio Google Tradutor, para fazer uma primeira triagem e selecionar as fontes mais relevantes, e depois criar projetos de tradução na plataforma Win-Win, para conseguir uma tradução profissional para as referências que forem mais importantes para seus estudos.
Espero que essas dicas ajudem a melhorar suas pesquisas e dar um upgrade em seus estudos. Deixe um comentário contando qual vai ser mais útil no seu curso ou área de pesquisa e compartilhe o artigo com seus colegas para ajudar nas pesquisas deles também.
Bônus: Recentemente compartilhamos em nossa página no Facebook um artigo sobre outros sites úteis para pesquisa acadêmica além do Google. Confira lá.
Obra citada: ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 15. ed. São Paulo: Perspectiva, 1977.